Culpa materna: por que ela surge e como lidar com esse sentimento?
- Greyce Ferreira
- 8 de mai.
- 4 min de leitura
Atualizado: há 18 minutos
Você já se pegou pensando que não está sendo uma boa mãe? Que não deu atenção o suficiente, que perdeu a paciência ou que deveria estar fazendo mais? Se sim, saiba que esse sentimento tem nome: culpa materna. E mais do que isso — ele é muito mais comum do que se imagina.
A culpa materna surge quando sentimos que estamos falhando com nossos filhos. Às vezes, por não conseguir amamentar como gostaríamos. Em outras, por trabalhar fora. Ou até por desejar um momento sozinha. A verdade é que esse sentimento faz parte da experiência de muita gente, mas nem por isso precisa ser ignorado ou tratado como normal.
Ao longo deste texto, quero te ajudar a entender melhor o que é a culpa materna, porque ela aparece, como ela impacta a nossa saúde mental e o que podemos fazer para lidar com tudo isso de maneira mais leve. Vamos juntas?

Vamos entenda melhor o que é a culpa materna
Culpa materna é o sentimento constante de que a gente nunca está fazendo o suficiente. É aquela voz interna que diz “você deveria estar com seu filho agora” ou “você não devia ter perdido a paciência”. E o pior: essa culpa muitas vezes não tem fundamento, mas parece impossível de ignorar.
Esse sentimento não nasce do nada. Ele é construído — e alimentado — por uma sociedade que coloca a maternidade em um pedestal. Ser mãe, nesse modelo, exige entrega total, sem espaço para erros, cansaço ou vontade de ser só… mulher. E é aí que muitas de nós adoecem em silêncio.
Mas de onde vem esse sentimento?
A ideia de que a mãe precisa dar conta de tudo, sorrindo, paciente e impecável, não surgiu agora. É uma construção antiga, reforçada por padrões culturais, discursos religiosos, familiares e, mais recentemente, pelas redes sociais.
Você já reparou como as redes estão cheias de mães que parecem viver tudo com leveza? Filhos bem alimentados, casa arrumada, tempo para exercícios, autocuidado e ainda um sorriso no rosto. Mas essa não é a realidade da maioria. A gente não vê as noites sem dormir, os momentos de dúvida, o choro escondido.
Além disso, existe uma cobrança social — às vezes explícita, às vezes velada — de que a maternidade precisa ser perfeita. E essa cobrança vem de todos os lados: parentes, profissionais, amigas, desconhecidos na internet.
O resultado? Uma culpa silenciosa, que vai se instalando e, muitas vezes, nos fazendo sentir sozinhas e insuficientes.
Como a culpa materna afeta a nossa saúde mental?
Sentir culpa de vez em quando é normal. Mas viver com esse peso todos os dias pode ter efeitos sérios na nossa saúde emocional. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o puerpério e os primeiros anos da maternidade são períodos críticos para a saúde mental da mulher.
Quando a culpa se instala e vira regra, ela pode abrir espaço para:
Ansiedade constante;
Tristeza e sensação de fracasso;
Queda da autoestima;
Depressão pós-parto;
Isolamento emocional;
Exaustão física e mental.
Muitas mulheres sentem vergonha de falar sobre isso. Acham que é “frescura”, que estão sendo fracas, que outras mães “conseguem lidar melhor”. Mas a verdade é que todas nós temos limites, ultrapassá-los constantemente, sem apoio, cobra um preço alto.
É normal sentir culpa sendo mãe?
Sim. Toda mãe, em algum momento, vai se sentir culpada por algo. Isso acontece porque nos importamos, porque queremos fazer o melhor. Mas uma coisa precisa ficar clara: sentir culpa o tempo todo não é saudável. E, principalmente, não te torna uma mãe melhor.
É importante lembrar que não existe mãe perfeita. Existe a mãe possível: que ama, que erra, que acerta, que tenta de novo. E está tudo bem.
Como aliviar a culpa materna no dia a dia?
Ninguém vai conseguir “apagar” esse sentimento com uma receita pronta. Mas algumas atitudes podem ajudar a aliviar esse peso e trazer mais leveza para a maternidade:
Fale sobre o que sente. Conversar com outras mães, com amigas ou com um terapeuta pode ajudar a perceber que você não está sozinha.
Questione as cobranças. Será que essa exigência vem de você ou do que a sociedade espera de uma “boa mãe”?
Aceite que errar faz parte. Crianças não precisam de mães perfeitas, mas de mães reais, presentes e afetuosas.
Cuide de você. Uma mãe que se cuida ensina ao filho que o autocuidado também é importante. E isso é um presente.
Valorize o que você já faz. Olhe para a sua rotina com mais gentileza. Você faz muito mais do que percebe.
A maternidade é intensa. Tem amor, tem entrega, mas também tem cansaço, dúvidas e dias difíceis. E tudo bem.

A culpa materna precisa ser escutada, não silenciada
Se tem algo que aprendi, ouvindo tantas mulheres ao longo da minha caminhada, é que a culpa materna não desaparece quando a gente tenta ignorar. Pelo contrário: ela cresce quando é vivida em silêncio, no automático, sem espaço para ser compreendida.
Essa culpa precisa de escuta. Precisa de acolhimento. Precisa ser olhada com honestidade e gentileza — não para nos definir, mas para ser transformada aos poucos, no nosso ritmo.
Você não está sozinha. E não precisa seguir carregando tudo calada. Buscar apoio, conversar com outras mulheres, olhar para si com mais carinho: tudo isso é parte do caminho.
Se esse texto tocou algo aí dentro, quero te convidar a continuar essa conversa comigo. Criei a mentoria Attraversiamo justamente para isso: para abrir um espaço seguro onde possamos atravessar, juntas, tudo o que nos atravessa — inclusive essa culpa silenciosa que tantas de nós carregamos.
A gente não precisa seguir sozinha. Nem dar conta de tudo para ser uma boa mãe. A gente só precisa ser verdadeira com a mulher que somos e isso já é um recomeço.
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